A EVOLUÇÃO DA CERÂMICA NO MUNDO
A picareta dos arqueólogos, ao remexer entre os sedimentos que os séculos acumularam no solo do Velho Mundo, encontra com frequência fragmentos de terracota e cacos de vasos ou de ânforas cozidos em fogo. A história da cerâmica confundiu-se – em certo sentido – com a própria história da civilização: os vasos, as taças ou as ânforas são, em muitos casos, os únicos elementos sobre os quais podemos reconstruir os hábitos, a religião e até as migrações de povos já desaparecidos.
A arte da cerâmica prosperou entre quase todos os povos ao mesmo tempo, refletindo nas formas e nas cores o ambiente e a cultura em que viveram. Nas primeiras peças decoradas, os motivos artísticos eram geralmente o dia a dia das comunidades: a caça, os animais, a luta, etc.
Do calor do sol aos fornos utilizados atualmente para tornar as peças mais firmes, a história da cerâmica auxiliou no cotidiano de todos os povos. Da Era Neolítica aos dias de hoje, os artistas continuam com seus dedos ágeis transformando blocos de argila e criando novas utilidades para a população.
A cerâmica, tanto de uso comum como artístico, é produzida hoje por toda parte, seja em grandes estabelecimentos ou por pequenos artesãos. Os sistemas são fundamentalmente os mesmos, mas é inegável que a experiência técnica adquiriu tamanha perfeição que permite resultados extraordinários.
Com exceção da fabricação de tijolos e telhas (comumente utilizadas na construção desde a Antiguidade na Mesopotâmia), desde muito cedo a produção cerâmica dá importância fundamental à estética, já que seu produto, na maioria das vezes, se destinava ao comércio. No Mediterrâneo, um trabalhador desconhecido inventou o aparelho que permitia fazer vasos perfeitos, de superfície lisa e espessura uniforme, num tempo relativamente breve. Esta roda de madeira movida por um pedal foi criada aproximadamente em 2.000 AC.
Os gregos continuaram por muitos séculos produzindo as melhores peças de cerâmica do Mundo Mediterrâneo, mesmo quando as margens deste mar foram tornadas colônias romanas. Ainda hoje perdura a fama dos vaseiros de Atenas e Samos, de onde seus inúmeros pratos e taças de delicado acabamento se caracterizavam por ter o fundo negro ou azul e desenhos escarlate. De outro lado, os gregos foram durante o domínio romano os artífices mais apreciados, não só na cerâmica, mas também na ourivesaria, na pintura e em qualquer outro ramo de arte. O bom gosto, a filosofia, a literatura havia se imposto aos rudes conquistadores latinos, que acabaram assimilando, instintivamente, a milenar cultura da Hélade na antiga Grécia.
Com a prosperidade da cerâmica, cada povo descobriu seu estilo próprio e, com isso, surgiram novas técnicas. Foi assim que os artífices chineses, desde a metade do terceiro milênio AC, criaram objetos de design, pintados e esmaltados. Foram justamente eles os primeiros a usar, a partir do segundo século antes da nossa era, um finíssimo pó branco, o caulim, que permite fabricar vasos translúcidos e leves. Nasce, então, a porcelana.
A difusão da porcelana não foi notável antes do século XVIII. Com a utilização da porcelana, a cerâmica alcançou níveis elevados de sofisticação. Na China, a porcelana desenvolveu-se, dando origem a produtos de decoração e utilização à mesa. Também na Itália existia um florescente artesanato: os etruscos, em meados do segundo milênio AC, já fabricavam vasos esmaltados de grande qualidade. Cerâmicas etruscas ornamentavam, além das gregas e persas, as mansões dos patrícios romanos: as formas bizarras, os esmaltes vivos e brilhantes, os vagos desenhos ornamentais.
Na Itália, os ceramistas continuaram a trabalhar com velhos sistemas etruscos e gregos ainda durante a Idade Média. No início do Renascimento havia produtos manufaturados em Gubbio, Volterra, Faenza, Deruto e Montelupo. Em todas estas cidades, desenvolveram-se indústrias bem distintas, cada qual com estilo e técnica próprios: os sistemas de cozimento e de esmaltar, a composição dos vernizes, tudo era mantido em rigoroso segredo. Basta lembrar, entre os ceramistas italianos, Luca e Andrea Della Robbia, que criaram baixo-relevos de terracota vidrada e pintada, que se vêem em quase toda parte, nas paredes das vilas e dos castelos da região central da Itália.
A escola de Faenza ganhou tanta celebridade que deu seu nome a todos os objetos de cerâmica que, da Itália, se difundiam pela Europa: daí o nome “faiança” em português, e o “faience”, lembrando o nome da cidade romana.
Da mesma forma, com o progressivo desenvolvimento industrial, os revestimentos cerâmicos para utilização em paredes e pisos deixaram de ser privilégio dos recintos religiosos e dos palácios, tornando-se acessíveis a todas as classes sociais. Eles trouxeram para as paredes externas das casas o colorido e o luxo das paredes internas. Deixaram de figurar apenas em obras monumentais e passaram também para as fachadas dos pequenos sobrados comerciais e residenciais e, até mesmo, de pequenas casas térreas.
A CERÂMICA PARA REVESTIMENTO
A origem do nome “azulejo” provém dos árabes, sendo derivado do termo "azuleicha”, que significa "pedra polida". A arte do azulejo foi largamente difundida pelos islâmicos. Os árabes a levaram para a Espanha e, de lá, se difundiu por toda a Europa. A influência dos árabes na cerâmica peninsular e depois na européia foi enorme, pois eles trouxeram novas técnicas e novos estilos de decoração, como a introdução dos famosos arabescos e das formas geométricas, que os islâmicos desenvolveram a fundo.
Foi tão forte a influência árabe na península Ibérica que, mesmo depois da reconquista do território pelos cristãos, ela permaneceu. Disso resultou o chamado estilo hispano-mourisco. Com a reconquista do território pelos católicos, muitos artífices árabes preferiram ficar e passaram a combinar os elementos de arte cristã, românica e gótica com os árabes, criando um novo estilo chamado “mudéjar”.
A cerâmica de corda seca, técnica que permite combinar várias cores num azulejo, foi desenvolvida na Pérsia durante o século XIV como substituto menos dispendioso que o mosaico, continuando, ainda hoje, a ser utilizada. A decoração deste azulejo, em forma de estrela, consiste numa estrutura complexa baseada numa flor de lótus estilizada e composta por dez pétalas. O centro é decorado com uma estrela de seis pontas com vestígios de dourado. Esta forma combinava-se com azulejos de outras tipologias – pentágonos, hexágonos e outros polígonos –, formando um padrão geométrico elaborado, sendo geralmente a estrela com doze pontas o elemento central da composição.
A paleta cromática inclui o branco, o turquesa e o manganês sobre um fundo de azul cobalto e ouro. Estes painéis de azulejos revestiam, entre outros edifícios, mesquitas e madrasas, acentuando a sua simetria e transmitindo uma imagem de opulência. Na Pérsia, a arte insuperável dos Sumérios e Babilônios não se extinguira e continuava a produzir, além de ânforas, bacias, taças esculpidas e pintadas, maravilhosos azulejos, para revestir fachadas e vestíbulos. Devido à dominação árabe do Mediterrâneo, entre o 6º e o 14º séculos AC, a cerâmica da Pérsia foi difundida, juntamente com sua técnica para Sicília, Espanha e Ásia Menor.
Por isso, ainda hoje, por onde se estendeu o Império dos Califas, é possível admirar esses produtos, encontrados em palácios fantasticamente ornamentados, com molduras de cerâmica brilhantes, pátios de decoração rebuscada, compostos de milhares de azulejos esmaltados. As primeiras utilizações conhecidas do azulejo em Portugal, como revestimento monumental das paredes, foram realizadas com azulejos importados de Sevilha em 1503, tornando-se uma das mais expressivas artes ornamentais, assumindo grande relevo na arquitetura.
Portugal, apesar de não ser grande produtor de revestimentos cerâmicos, foi o país europeu que, a partir do século XVI, mais utilizou o revestimento cerâmico em seus prédios.
Esse gosto pela cerâmica inicia-se a partir das navegações iniciadas no século XV, quando Portugal entra em contato com outras civilizações, fundindo as suas manifestações artísticas com vários desses países, como as de origem mulçumana, herdeira das tradições orientais, assírias, persas, egípcias e chinesas. A admiração pela cerâmica de revestimentos ganha dimensões de arte verdadeiramente nacional.
Já no século XV são encontrados palácios reais revestidos em seu interior com azulejos. Mas é a partir do século XVI, com uma produção regular de revestimento cerâmico no país, que seu uso se torna frequente em igrejas, conventos e palácios nobres da alta burguesia. O uso, em sua maioria, se restringia aos interiores, em forma de tapetes, ou apenas como material ornamental. Quando utilizado exteriormente, limitava-se ao revestimento de pináculos e cúpulas das igrejas, devido ao seu alto custo.
No século XVIII, o Marquês de Pombal, enquanto Primeiro Ministro de D. João VI, em Portugal, implanta um projeto de industrialização manufatureira no país. Cria-se, então, a Fábrica de Loiça do Rato, que simplificava os padrões dos azulejos existentes (de rococós com predominância de concheados nos emolduramentos, policrômicos, passam a perder a volumetria, suas cores tornam-se mais flamejantes e começam a ser permeados de motivos neoclássicos) com o intuito de aumentar a produção.
Com isso, o custo do produto diminui significativamente, sendo acessível a um público maior. Já se podia ver, então, o revestimento cerâmico estendendo-se a espaços intermediários entre interior e exterior, como no revestimento de alpendres, pátios, claustros; também enfeitando os jardins com seus bancos ou chafarizes revestidos.
No Brasil independente, o uso do azulejo tornou-se, no século XIX, bem mais frequente, revelando-se um excelente revestimento para nosso clima. Casas e sobrados de muitas cidades brasileiras apresentam o colorido alegre e inalterável que, há mais de cem anos, o azulejo lhes confere.
Há controvérsias, no entanto, com relação à nacionalidade dos primeiros revestimentos cerâmicos que chegaram ao Brasil. Sabe-se que no século XVII azulejos em estilo barroco começaram a ser encomendados de Lisboa. Estes eram trazidos em forma de painéis e serviam, apenas, como material decorativo. Retratavam cenas da paisagem, do cotidiano da metrópole, divulgando o modo de vida dos portugueses ou cenas bíblicas ajudando nas aulas de catequese.
A picareta dos arqueólogos, ao remexer entre os sedimentos que os séculos acumularam no solo do Velho Mundo, encontra com frequência fragmentos de terracota e cacos de vasos ou de ânforas cozidos em fogo. A história da cerâmica confundiu-se – em certo sentido – com a própria história da civilização: os vasos, as taças ou as ânforas são, em muitos casos, os únicos elementos sobre os quais podemos reconstruir os hábitos, a religião e até as migrações de povos já desaparecidos.
A arte da cerâmica prosperou entre quase todos os povos ao mesmo tempo, refletindo nas formas e nas cores o ambiente e a cultura em que viveram. Nas primeiras peças decoradas, os motivos artísticos eram geralmente o dia a dia das comunidades: a caça, os animais, a luta, etc.
Do calor do sol aos fornos utilizados atualmente para tornar as peças mais firmes, a história da cerâmica auxiliou no cotidiano de todos os povos. Da Era Neolítica aos dias de hoje, os artistas continuam com seus dedos ágeis transformando blocos de argila e criando novas utilidades para a população.
A cerâmica, tanto de uso comum como artístico, é produzida hoje por toda parte, seja em grandes estabelecimentos ou por pequenos artesãos. Os sistemas são fundamentalmente os mesmos, mas é inegável que a experiência técnica adquiriu tamanha perfeição que permite resultados extraordinários.
Com exceção da fabricação de tijolos e telhas (comumente utilizadas na construção desde a Antiguidade na Mesopotâmia), desde muito cedo a produção cerâmica dá importância fundamental à estética, já que seu produto, na maioria das vezes, se destinava ao comércio. No Mediterrâneo, um trabalhador desconhecido inventou o aparelho que permitia fazer vasos perfeitos, de superfície lisa e espessura uniforme, num tempo relativamente breve. Esta roda de madeira movida por um pedal foi criada aproximadamente em 2.000 AC.
Os gregos continuaram por muitos séculos produzindo as melhores peças de cerâmica do Mundo Mediterrâneo, mesmo quando as margens deste mar foram tornadas colônias romanas. Ainda hoje perdura a fama dos vaseiros de Atenas e Samos, de onde seus inúmeros pratos e taças de delicado acabamento se caracterizavam por ter o fundo negro ou azul e desenhos escarlate. De outro lado, os gregos foram durante o domínio romano os artífices mais apreciados, não só na cerâmica, mas também na ourivesaria, na pintura e em qualquer outro ramo de arte. O bom gosto, a filosofia, a literatura havia se imposto aos rudes conquistadores latinos, que acabaram assimilando, instintivamente, a milenar cultura da Hélade na antiga Grécia.
Com a prosperidade da cerâmica, cada povo descobriu seu estilo próprio e, com isso, surgiram novas técnicas. Foi assim que os artífices chineses, desde a metade do terceiro milênio AC, criaram objetos de design, pintados e esmaltados. Foram justamente eles os primeiros a usar, a partir do segundo século antes da nossa era, um finíssimo pó branco, o caulim, que permite fabricar vasos translúcidos e leves. Nasce, então, a porcelana.
A difusão da porcelana não foi notável antes do século XVIII. Com a utilização da porcelana, a cerâmica alcançou níveis elevados de sofisticação. Na China, a porcelana desenvolveu-se, dando origem a produtos de decoração e utilização à mesa. Também na Itália existia um florescente artesanato: os etruscos, em meados do segundo milênio AC, já fabricavam vasos esmaltados de grande qualidade. Cerâmicas etruscas ornamentavam, além das gregas e persas, as mansões dos patrícios romanos: as formas bizarras, os esmaltes vivos e brilhantes, os vagos desenhos ornamentais.
Na Itália, os ceramistas continuaram a trabalhar com velhos sistemas etruscos e gregos ainda durante a Idade Média. No início do Renascimento havia produtos manufaturados em Gubbio, Volterra, Faenza, Deruto e Montelupo. Em todas estas cidades, desenvolveram-se indústrias bem distintas, cada qual com estilo e técnica próprios: os sistemas de cozimento e de esmaltar, a composição dos vernizes, tudo era mantido em rigoroso segredo. Basta lembrar, entre os ceramistas italianos, Luca e Andrea Della Robbia, que criaram baixo-relevos de terracota vidrada e pintada, que se vêem em quase toda parte, nas paredes das vilas e dos castelos da região central da Itália.
A escola de Faenza ganhou tanta celebridade que deu seu nome a todos os objetos de cerâmica que, da Itália, se difundiam pela Europa: daí o nome “faiança” em português, e o “faience”, lembrando o nome da cidade romana.
Da mesma forma, com o progressivo desenvolvimento industrial, os revestimentos cerâmicos para utilização em paredes e pisos deixaram de ser privilégio dos recintos religiosos e dos palácios, tornando-se acessíveis a todas as classes sociais. Eles trouxeram para as paredes externas das casas o colorido e o luxo das paredes internas. Deixaram de figurar apenas em obras monumentais e passaram também para as fachadas dos pequenos sobrados comerciais e residenciais e, até mesmo, de pequenas casas térreas.
A CERÂMICA PARA REVESTIMENTO
A origem do nome “azulejo” provém dos árabes, sendo derivado do termo "azuleicha”, que significa "pedra polida". A arte do azulejo foi largamente difundida pelos islâmicos. Os árabes a levaram para a Espanha e, de lá, se difundiu por toda a Europa. A influência dos árabes na cerâmica peninsular e depois na européia foi enorme, pois eles trouxeram novas técnicas e novos estilos de decoração, como a introdução dos famosos arabescos e das formas geométricas, que os islâmicos desenvolveram a fundo.
Foi tão forte a influência árabe na península Ibérica que, mesmo depois da reconquista do território pelos cristãos, ela permaneceu. Disso resultou o chamado estilo hispano-mourisco. Com a reconquista do território pelos católicos, muitos artífices árabes preferiram ficar e passaram a combinar os elementos de arte cristã, românica e gótica com os árabes, criando um novo estilo chamado “mudéjar”.
A cerâmica de corda seca, técnica que permite combinar várias cores num azulejo, foi desenvolvida na Pérsia durante o século XIV como substituto menos dispendioso que o mosaico, continuando, ainda hoje, a ser utilizada. A decoração deste azulejo, em forma de estrela, consiste numa estrutura complexa baseada numa flor de lótus estilizada e composta por dez pétalas. O centro é decorado com uma estrela de seis pontas com vestígios de dourado. Esta forma combinava-se com azulejos de outras tipologias – pentágonos, hexágonos e outros polígonos –, formando um padrão geométrico elaborado, sendo geralmente a estrela com doze pontas o elemento central da composição.
A paleta cromática inclui o branco, o turquesa e o manganês sobre um fundo de azul cobalto e ouro. Estes painéis de azulejos revestiam, entre outros edifícios, mesquitas e madrasas, acentuando a sua simetria e transmitindo uma imagem de opulência. Na Pérsia, a arte insuperável dos Sumérios e Babilônios não se extinguira e continuava a produzir, além de ânforas, bacias, taças esculpidas e pintadas, maravilhosos azulejos, para revestir fachadas e vestíbulos. Devido à dominação árabe do Mediterrâneo, entre o 6º e o 14º séculos AC, a cerâmica da Pérsia foi difundida, juntamente com sua técnica para Sicília, Espanha e Ásia Menor.
Por isso, ainda hoje, por onde se estendeu o Império dos Califas, é possível admirar esses produtos, encontrados em palácios fantasticamente ornamentados, com molduras de cerâmica brilhantes, pátios de decoração rebuscada, compostos de milhares de azulejos esmaltados. As primeiras utilizações conhecidas do azulejo em Portugal, como revestimento monumental das paredes, foram realizadas com azulejos importados de Sevilha em 1503, tornando-se uma das mais expressivas artes ornamentais, assumindo grande relevo na arquitetura.
Portugal, apesar de não ser grande produtor de revestimentos cerâmicos, foi o país europeu que, a partir do século XVI, mais utilizou o revestimento cerâmico em seus prédios.
Esse gosto pela cerâmica inicia-se a partir das navegações iniciadas no século XV, quando Portugal entra em contato com outras civilizações, fundindo as suas manifestações artísticas com vários desses países, como as de origem mulçumana, herdeira das tradições orientais, assírias, persas, egípcias e chinesas. A admiração pela cerâmica de revestimentos ganha dimensões de arte verdadeiramente nacional.
Já no século XV são encontrados palácios reais revestidos em seu interior com azulejos. Mas é a partir do século XVI, com uma produção regular de revestimento cerâmico no país, que seu uso se torna frequente em igrejas, conventos e palácios nobres da alta burguesia. O uso, em sua maioria, se restringia aos interiores, em forma de tapetes, ou apenas como material ornamental. Quando utilizado exteriormente, limitava-se ao revestimento de pináculos e cúpulas das igrejas, devido ao seu alto custo.
No século XVIII, o Marquês de Pombal, enquanto Primeiro Ministro de D. João VI, em Portugal, implanta um projeto de industrialização manufatureira no país. Cria-se, então, a Fábrica de Loiça do Rato, que simplificava os padrões dos azulejos existentes (de rococós com predominância de concheados nos emolduramentos, policrômicos, passam a perder a volumetria, suas cores tornam-se mais flamejantes e começam a ser permeados de motivos neoclássicos) com o intuito de aumentar a produção.
Com isso, o custo do produto diminui significativamente, sendo acessível a um público maior. Já se podia ver, então, o revestimento cerâmico estendendo-se a espaços intermediários entre interior e exterior, como no revestimento de alpendres, pátios, claustros; também enfeitando os jardins com seus bancos ou chafarizes revestidos.
No Brasil independente, o uso do azulejo tornou-se, no século XIX, bem mais frequente, revelando-se um excelente revestimento para nosso clima. Casas e sobrados de muitas cidades brasileiras apresentam o colorido alegre e inalterável que, há mais de cem anos, o azulejo lhes confere.
Há controvérsias, no entanto, com relação à nacionalidade dos primeiros revestimentos cerâmicos que chegaram ao Brasil. Sabe-se que no século XVII azulejos em estilo barroco começaram a ser encomendados de Lisboa. Estes eram trazidos em forma de painéis e serviam, apenas, como material decorativo. Retratavam cenas da paisagem, do cotidiano da metrópole, divulgando o modo de vida dos portugueses ou cenas bíblicas ajudando nas aulas de catequese.
A CERÂMICA NA ATUALIDADE
A cerâmica, que é praticamente tão antiga quanto à descoberta do fogo, mesmo utilizando os antigos métodos artesanais pode produzir artigos de excelente qualidade. Nos últimos anos, acompanhando a evolução industrial, a indústria cerâmica adotou a produção em massa, garantida pela indústria de equipamentos, e a introdução de técnicas de gestão, incluindo o controle de matérias-primas, dos processos e dos produtos fabricados.
A indústria cerâmica na atualidade pode ser subdivida em setores que possuem características bastante individualizadas e com níveis de avanço tecnológico distintos.
Cerâmica Vermelha: Compreende aqueles materiais com coloração avermelhada empregados na construção civil (tijolos, blocos, telhas, elementos vazados, lajes, tubos cerâmicos e argilas expandidas) e também utensílios de uso doméstico e de adorno. As lajotas muitas vezes são enquadradas neste grupo, porém o mais correto é em Materiais de Revestimento.
Cerâmica Branca: Este grupo é bastante diversificado, compreendendo materiais constituídos por um corpo branco e em geral recobertos por uma camada vítrea transparente e incolor e que eram assim agrupados pela cor branca da massa, necessária por razões estéticas e/ou técnicas. Com o advento dos vidrados opacificados, muitos dos produtos enquadrados neste grupo passaram a ser fabricados, sem prejuízo das características para uma dada aplicação, com matérias-primas com certo grau de impurezas, responsáveis pela coloração. Dessa forma, é mais adequado subdividir este grupo em:
• Louça sanitária
• Louça de mesa
• Isoladores elétricos para alta e baixa tensão
• Cerâmica artística (decorativa e utilitária)
• Cerâmica técnica para fins diversos, tais como: químico, elétrico, térmico e mecânico.
Materiais Refratários: Este grupo compreende uma diversidade de produtos que têm como finalidade suportar temperaturas elevadas nas condições específicas de processo e de operação dos equipamentos industriais, que em geral envolvem esforços mecânicos, ataques químicos, variações bruscas de temperatura e outras solicitações. Para suportar estas solicitações e em função da natureza das mesmas, foram desenvolvidos inúmeros tipos de produtos, a partir de diferentes matérias-primas ou mistura destas.
Dessa forma, podemos classificar os produtos refratários quanto à matéria-prima ou ao componente químico principal em sílica, sílico-aluminoso, aluminoso, mulita, magnesianocromítico, cromítico-magnesiano, carbeto de silício, grafita, carbono, zircônia, zirconita, espinélio e outros.
Isolantes Térmicos: Os produtos deste segmento podem ser classificados em:
1) Refratários isolantes que se enquadram no segmento de refratários;
2) Isolantes térmicos não refratários, compreendendo produtos como vermiculita expandida, sílica diatomácea, diatomito, silicato de cálcio, lã de vidro e lã de rocha (que são obtidos por processos distintos ao do item anterior) e que podem ser utilizados, dependendo do tipo de produto até 1100º C;
3) Fibras ou lãs cerâmicas que apresentam características físicas semelhantes às citadas no item anterior, porém apresentam composições tais como sílica, sílica-alumina, alumina e zircônia, que dependendo do tipo, podem chegar a temperaturas de utilização de 2000º C ou mais. Fritas e Corantes: Estes dois produtos são importantes matérias-primas para diversos segmentos cerâmicos que requerem determinados acabamentos. Frita (ou vidrado fritado) é um vidro moído, fabricado por indústrias especializadas a partir da fusão da mistura de diferentes matérias-primas. É aplicado na superfície do corpo cerâmico que, após a queima, adquire aspecto vítreo. Este acabamento tem por finalidade aprimorar a estética, tornar a peça impermeável, aumentar a resistência mecânica e melhorar ou proporcionar outras características. Corantes constituem-se de óxidos puros ou pigmentos inorgânicos sintéticos obtidos a partir da mistura de óxidos ou de seus compostos. Os pigmentos são fabricados por empresas especializadas, inclusive por muitas das que produzem fritas, cuja obtenção envolve a mistura das matérias-primas, calcinação e moagem. Os corantes são adicionados aos esmaltes (vidrados) ou aos corpos cerâmicos para conferir-lhes colorações das mais diversas tonalidades e efeitos especiais.
Abrasivos: Parte da indústria de abrasivos, por utilizarem matérias-primas e processos semelhantes aos da cerâmica, constituem-se num segmento cerâmico. Entre os produtos mais conhecidos podemos citar o óxido de alumínio eletrofundido e o carbeto de silício.
Vidro, Cimento e Cal: São três importantes segmentos cerâmicos e que, por suas particularidades, são muitas vezes considerados à parte da cerâmica.
Cerâmica de Alta Tecnologia/Cerâmica Avançada: O aprofundamento dos conhecimentos da ciência dos materiais proporcionou ao homem o desenvolvimento de novas tecnologias e aprimoramento das existentes nas mais diferentes áreas, como aeroespacial, eletrônica, nuclear e muitas outras e que passaram a exigir materiais com qualidade excepcionalmente elevada. Tais materiais passaram a ser desenvolvidos a partir de matérias-primas sintéticas de altíssima pureza e por meio de processos rigorosamente controlados.
Estes produtos, que podem apresentar os mais diferentes formatos, são fabricados pelo chamado segmento cerâmico de alta tecnologia ou cerâmica avançada. Eles são classificados, de acordo com suas funções, em: eletroeletrônicos, magnéticos, ópticos, químicos, térmicos, mecânicos, biológicos e nucleares. Os produtos deste segmento são de uso intenso e a cada dia tende a se ampliar.
Como alguns exemplos, podemos citar: naves espaciais, satélites, usinas nucleares, materiais para implantes em seres humanos, aparelhos de som e de vídeo, suporte de catalisadores para automóveis, sensores (umidade, gases e outros), ferramentas de corte, brinquedos, acendedor de fogão, etc.
Revestimentos Cerâmicos: As placas cerâmicas são constituídas, em geral, de três camadas: a) o suporte ou biscoito, b) o engobe, que tem função impermeabilizante e garante a aderência da terceira camada, e c) o esmalte, camada vítrea que também impermeabiliza, além de decorar uma das faces da placa.
O corpo cerâmico compõe-se de matérias-primas naturais, argilosas e não argilosas. Os materiais argilosos são formados de uma mistura de diversos tipos e características de argilas para dar a composição desejada e são à base do biscoito. Os materiais não argilosos, quartzo, feldspato e caulim, servem para sustentar o corpo cerâmico ou promover a fusão da massa e os materiais sintéticos são utilizados para a produção de engobes e esmaltes e, servem para fazer a decoração dos revestimentos.
Estes revestimentos são usados na construção civil para revestimento de paredes, pisos, bancadas e piscinas de ambientes internos e externos. Recebem designações tais como: azulejo, pastilha, porcelanato, grês, lajota, piso, etc.
A tecnologia do porcelanato trouxe produtos de qualidade técnica e estética refinada, que em muitos casos se assemelham às pedras naturais.
O MOMENTO ATUAL DA INDÚSTRIA DE REVESTIMENTOS CERÂMICOS BRASILEIRA
A concentração geográfica de empresas é característica da indústria de cerâmica para revestimento. Dois dos países líderes, Itália e Espanha, têm produção concentrada nas regiões de Sassuollo e Castellón, respectivamente. A estratégia competitiva dessas regiões baseia-se em design, qualidade e marca.
Da mesma forma, no Brasil, a produção é concentrada em algumas regiões. A região de Criciúma, em Santa Catarina, que tem reconhecimento como pólo internacional, concentra as maiores empresas brasileiras. Naquela região as empresas produzem com tecnologia via úmida e competem por design e marca, em faixas de preços mais altas.
Em São Paulo, a produção está distribuída em dois pólos: Mogi Guaçú e Santa Gertrudes. A região metropolitana de São Paulo conta com algumas empresas, mas não se configura um pólo. As empresas da capital e Mogi Guaçú produzem com tecnologia Via Úmida, enquanto em Santa Gertrudes a tecnologia utilizada pela maioria das empresas é Via Seca.
O Nordeste brasileiro pode tornar-se um pólo em futuro próximo, devido às condições favoráveis de existência de matéria-prima, energia viável e um mercado consumidor em desenvolvimento, além de boa localização geográfica para exportação.
O equipamento determinante da escala de produção é o forno de cozimento das peças. Estes fornos podem atingir mais de 150 m de comprimento. Na década de 1990, houve evolução na escala desses equipamentos, tendo sua capacidade ampliada de, aproximadamente, 80 mil m2/mês para 500 mil m2/mês ou mais, o que resultou em grandes aumentos na produtividade e no crescimento observado nesta indústria.
O Brasil é hoje um dos grandes players mundiais do revestimento cerâmico. O país é o segundo maior consumidor mundial de revestimentos cerâmicos e o segundo maior produtor. A cada dia a qualidade e a variedade desse material aumentam. Na mesma medida, cresce a utilização da cerâmica no Brasil para revestir pisos e paredes de todos os espaços internos da casa, assim como espaços externos. Exemplo disso são as fachadas dos edifícios revestidas por cerâmicas de tipos e formatos variados.
Os revestimentos cerâmicos, além das vantagens e da durabilidade provada através dos séculos, possuem as qualidades que uma avançada tecnologia lhes confere. Eles se mostram apropriados para pequenos detalhes, ambientes interiores ou para grandes escalas ao ar livre. São oferecidos de maneira a satisfazer os mais variados gostos, como padronagens e texturas diversas.
A EVOLUÇÃO DA CERÂMICA NO MUNDO
A picareta dos arqueólogos, ao remexer entre os sedimentos que os séculos acumularam no solo do Velho Mundo, encontra com frequência fragmentos de terracota e cacos de vasos ou de ânforas cozidos em fogo. A história da cerâmica confundiu-se – em certo sentido – com a própria história da civilização: os vasos, as taças ou as ânforas são, em muitos casos, os únicos elementos sobre os quais podemos reconstruir os hábitos, a religião e até as migrações de povos já desaparecidos.
A arte da cerâmica prosperou entre quase todos os povos ao mesmo tempo, refletindo nas formas e nas cores o ambiente e a cultura em que viveram. Nas primeiras peças decoradas, os motivos artísticos eram geralmente o dia a dia das comunidades: a caça, os animais, a luta, etc.
Do calor do sol aos fornos utilizados atualmente para tornar as peças mais firmes, a história da cerâmica auxiliou no cotidiano de todos os povos. Da Era Neolítica aos dias de hoje, os artistas continuam com seus dedos ágeis transformando blocos de argila e criando novas utilidades para a população.
A cerâmica, tanto de uso comum como artístico, é produzida hoje por toda parte, seja em grandes estabelecimentos ou por pequenos artesãos. Os sistemas são fundamentalmente os mesmos, mas é inegável que a experiência técnica adquiriu tamanha perfeição que permite resultados extraordinários.
Com exceção da fabricação de tijolos e telhas (comumente utilizadas na construção desde a Antiguidade na Mesopotâmia), desde muito cedo a produção cerâmica dá importância fundamental à estética, já que seu produto, na maioria das vezes, se destinava ao comércio. No Mediterrâneo, um trabalhador desconhecido inventou o aparelho que permitia fazer vasos perfeitos, de superfície lisa e espessura uniforme, num tempo relativamente breve. Esta roda de madeira movida por um pedal foi criada aproximadamente em 2.000 AC.
Os gregos continuaram por muitos séculos produzindo as melhores peças de cerâmica do Mundo Mediterrâneo, mesmo quando as margens deste mar foram tornadas colônias romanas. Ainda hoje perdura a fama dos vaseiros de Atenas e Samos, de onde seus inúmeros pratos e taças de delicado acabamento se caracterizavam por ter o fundo negro ou azul e desenhos escarlate. De outro lado, os gregos foram durante o domínio romano os artífices mais apreciados, não só na cerâmica, mas também na ourivesaria, na pintura e em qualquer outro ramo de arte. O bom gosto, a filosofia, a literatura havia se imposto aos rudes conquistadores latinos, que acabaram assimilando, instintivamente, a milenar cultura da Hélade na antiga Grécia.
Com a prosperidade da cerâmica, cada povo descobriu seu estilo próprio e, com isso, surgiram novas técnicas. Foi assim que os artífices chineses, desde a metade do terceiro milênio AC, criaram objetos de design, pintados e esmaltados. Foram justamente eles os primeiros a usar, a partir do segundo século antes da nossa era, um finíssimo pó branco, o caulim, que permite fabricar vasos translúcidos e leves. Nasce, então, a porcelana.
A difusão da porcelana não foi notável antes do século XVIII. Com a utilização da porcelana, a cerâmica alcançou níveis elevados de sofisticação. Na China, a porcelana desenvolveu-se, dando origem a produtos de decoração e utilização à mesa. Também na Itália existia um florescente artesanato: os etruscos, em meados do segundo milênio AC, já fabricavam vasos esmaltados de grande qualidade. Cerâmicas etruscas ornamentavam, além das gregas e persas, as mansões dos patrícios romanos: as formas bizarras, os esmaltes vivos e brilhantes, os vagos desenhos ornamentais.
Na Itália, os ceramistas continuaram a trabalhar com velhos sistemas etruscos e gregos ainda durante a Idade Média. No início do Renascimento havia produtos manufaturados em Gubbio, Volterra, Faenza, Deruto e Montelupo. Em todas estas cidades, desenvolveram-se indústrias bem distintas, cada qual com estilo e técnica próprios: os sistemas de cozimento e de esmaltar, a composição dos vernizes, tudo era mantido em rigoroso segredo. Basta lembrar, entre os ceramistas italianos, Luca e Andrea Della Robbia, que criaram baixo-relevos de terracota vidrada e pintada, que se vêem em quase toda parte, nas paredes das vilas e dos castelos da região central da Itália.
A escola de Faenza ganhou tanta celebridade que deu seu nome a todos os objetos de cerâmica que, da Itália, se difundiam pela Europa: daí o nome “faiança” em português, e o “faience”, lembrando o nome da cidade romana.
Da mesma forma, com o progressivo desenvolvimento industrial, os revestimentos cerâmicos para utilização em paredes e pisos deixaram de ser privilégio dos recintos religiosos e dos palácios, tornando-se acessíveis a todas as classes sociais. Eles trouxeram para as paredes externas das casas o colorido e o luxo das paredes internas. Deixaram de figurar apenas em obras monumentais e passaram também para as fachadas dos pequenos sobrados comerciais e residenciais e, até mesmo, de pequenas casas térreas.
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A CERÂMICA PARA REVESTIMENTO
A origem do nome “azulejo” provém dos árabes, sendo derivado do termo "azuleicha”, que significa "pedra polida". A arte do azulejo foi largamente difundida pelos islâmicos. Os árabes a levaram para a Espanha e, de lá, se difundiu por toda a Europa. A influência dos árabes na cerâmica peninsular e depois na européia foi enorme, pois eles trouxeram novas técnicas e novos estilos de decoração, como a introdução dos famosos arabescos e das formas geométricas, que os islâmicos desenvolveram a fundo.
Foi tão forte a influência árabe na península Ibérica que, mesmo depois da reconquista do território pelos cristãos, ela permaneceu. Disso resultou o chamado estilo hispano-mourisco. Com a reconquista do território pelos católicos, muitos artífices árabes preferiram ficar e passaram a combinar os elementos de arte cristã, românica e gótica com os árabes, criando um novo estilo chamado “mudéjar”.
A cerâmica de corda seca, técnica que permite combinar várias cores num azulejo, foi desenvolvida na Pérsia durante o século XIV como substituto menos dispendioso que o mosaico, continuando, ainda hoje, a ser utilizada. A decoração deste azulejo, em forma de estrela, consiste numa estrutura complexa baseada numa flor de lótus estilizada e composta por dez pétalas. O centro é decorado com uma estrela de seis pontas com vestígios de dourado. Esta forma combinava-se com azulejos de outras tipologias – pentágonos, hexágonos e outros polígonos –, formando um padrão geométrico elaborado, sendo geralmente a estrela com doze pontas o elemento central da composição.
A paleta cromática inclui o branco, o turquesa e o manganês sobre um fundo de azul cobalto e ouro. Estes painéis de azulejos revestiam, entre outros edifícios, mesquitas e madrasas, acentuando a sua simetria e transmitindo uma imagem de opulência. Na Pérsia, a arte insuperável dos Sumérios e Babilônios não se extinguira e continuava a produzir, além de ânforas, bacias, taças esculpidas e pintadas, maravilhosos azulejos, para revestir fachadas e vestíbulos. Devido à dominação árabe do Mediterrâneo, entre o 6º e o 14º séculos AC, a cerâmica da Pérsia foi difundida, juntamente com sua técnica para Sicília, Espanha e Ásia Menor.
Por isso, ainda hoje, por onde se estendeu o Império dos Califas, é possível admirar esses produtos, encontrados em palácios fantasticamente ornamentados, com molduras de cerâmica brilhantes, pátios de decoração rebuscada, compostos de milhares de azulejos esmaltados. As primeiras utilizações conhecidas do azulejo em Portugal, como revestimento monumental das paredes, foram realizadas com azulejos importados de Sevilha em 1503, tornando-se uma das mais expressivas artes ornamentais, assumindo grande relevo na arquitetura.
Portugal, apesar de não ser grande produtor de revestimentos cerâmicos, foi o país europeu que, a partir do século XVI, mais utilizou o revestimento cerâmico em seus prédios.
Esse gosto pela cerâmica inicia-se a partir das navegações iniciadas no século XV, quando Portugal entra em contato com outras civilizações, fundindo as suas manifestações artísticas com vários desses países, como as de origem mulçumana, herdeira das tradições orientais, assírias, persas, egípcias e chinesas. A admiração pela cerâmica de revestimentos ganha dimensões de arte verdadeiramente nacional.
Já no século XV são encontrados palácios reais revestidos em seu interior com azulejos. Mas é a partir do século XVI, com uma produção regular de revestimento cerâmico no país, que seu uso se torna frequente em igrejas, conventos e palácios nobres da alta burguesia. O uso, em sua maioria, se restringia aos interiores, em forma de tapetes, ou apenas como material ornamental. Quando utilizado exteriormente, limitava-se ao revestimento de pináculos e cúpulas das igrejas, devido ao seu alto custo.
No século XVIII, o Marquês de Pombal, enquanto Primeiro Ministro de D. João VI, em Portugal, implanta um projeto de industrialização manufatureira no país. Cria-se, então, a Fábrica de Loiça do Rato, que simplificava os padrões dos azulejos existentes (de rococós com predominância de concheados nos emolduramentos, policrômicos, passam a perder a volumetria, suas cores tornam-se mais flamejantes e começam a ser permeados de motivos neoclássicos) com o intuito de aumentar a produção.
Com isso, o custo do produto diminui significativamente, sendo acessível a um público maior. Já se podia ver, então, o revestimento cerâmico estendendo-se a espaços intermediários entre interior e exterior, como no revestimento de alpendres, pátios, claustros; também enfeitando os jardins com seus bancos ou chafarizes revestidos.
No Brasil independente, o uso do azulejo tornou-se, no século XIX, bem mais frequente, revelando-se um excelente revestimento para nosso clima. Casas e sobrados de muitas cidades brasileiras apresentam o colorido alegre e inalterável que, há mais de cem anos, o azulejo lhes confere.
Há controvérsias, no entanto, com relação à nacionalidade dos primeiros revestimentos cerâmicos que chegaram ao Brasil. Sabe-se que no século XVII azulejos em estilo barroco começaram a ser encomendados de Lisboa. Estes eram trazidos em forma de painéis e serviam, apenas, como material decorativo. Retratavam cenas da paisagem, do cotidiano da metrópole, divulgando o modo de vida dos portugueses ou cenas bíblicas ajudando nas aulas de catequese.
A CERÂMICA NA ATUALIDADE
A cerâmica, que é praticamente tão antiga quanto à descoberta do fogo, mesmo utilizando os antigos métodos artesanais pode produzir artigos de excelente qualidade. Nos últimos anos, acompanhando a evolução industrial, a indústria cerâmica adotou a produção em massa, garantida pela indústria de equipamentos, e a introdução de técnicas de gestão, incluindo o controle de matérias-primas, dos processos e dos produtos fabricados.
A indústria cerâmica na atualidade pode ser subdivida em setores que possuem características bastante individualizadas e com níveis de avanço tecnológico distintos.
Cerâmica Vermelha: Compreende aqueles materiais com coloração avermelhada empregados na construção civil (tijolos, blocos, telhas, elementos vazados, lajes, tubos cerâmicos e argilas expandidas) e também utensílios de uso doméstico e de adorno. As lajotas muitas vezes são enquadradas neste grupo, porém o mais correto é em Materiais de Revestimento.
Cerâmica Branca: Este grupo é bastante diversificado, compreendendo materiais constituídos por um corpo branco e em geral recobertos por uma camada vítrea transparente e incolor e que eram assim agrupados pela cor branca da massa, necessária por razões estéticas e/ou técnicas. Com o advento dos vidrados opacificados, muitos dos produtos enquadrados neste grupo passaram a ser fabricados, sem prejuízo das características para uma dada aplicação, com matérias-primas com certo grau de impurezas, responsáveis pela coloração. Dessa forma, é mais adequado subdividir este grupo em:
• Louça sanitária
• Louça de mesa
• Isoladores elétricos para alta e baixa tensão
• Cerâmica artística (decorativa e utilitária)
• Cerâmica técnica para fins diversos, tais como: químico, elétrico, térmico e mecânico.
Materiais Refratários: Este grupo compreende uma diversidade de produtos que têm como finalidade suportar temperaturas elevadas nas condições específicas de processo e de operação dos equipamentos industriais, que em geral envolvem esforços mecânicos, ataques químicos, variações bruscas de temperatura e outras solicitações. Para suportar estas solicitações e em função da natureza das mesmas, foram desenvolvidos inúmeros tipos de produtos, a partir de diferentes matérias-primas ou mistura destas.
Dessa forma, podemos classificar os produtos refratários quanto à matéria-prima ou ao componente químico principal em sílica, sílico-aluminoso, aluminoso, mulita, magnesianocromítico, cromítico-magnesiano, carbeto de silício, grafita, carbono, zircônia, zirconita, espinélio e outros.
Isolantes Térmicos: Os produtos deste segmento podem ser classificados em:
1) Refratários isolantes que se enquadram no segmento de refratários;
2) Isolantes térmicos não refratários, compreendendo produtos como vermiculita expandida, sílica diatomácea, diatomito, silicato de cálcio, lã de vidro e lã de rocha (que são obtidos por processos distintos ao do item anterior) e que podem ser utilizados, dependendo do tipo de produto até 1100º C;
3) Fibras ou lãs cerâmicas que apresentam características físicas semelhantes às citadas no item anterior, porém apresentam composições tais como sílica, sílica-alumina, alumina e zircônia, que dependendo do tipo, podem chegar a temperaturas de utilização de 2000º C ou mais. Fritas e Corantes: Estes dois produtos são importantes matérias-primas para diversos segmentos cerâmicos que requerem determinados acabamentos. Frita (ou vidrado fritado) é um vidro moído, fabricado por indústrias especializadas a partir da fusão da mistura de diferentes matérias-primas. É aplicado na superfície do corpo cerâmico que, após a queima, adquire aspecto vítreo. Este acabamento tem por finalidade aprimorar a estética, tornar a peça impermeável, aumentar a resistência mecânica e melhorar ou proporcionar outras características. Corantes constituem-se de óxidos puros ou pigmentos inorgânicos sintéticos obtidos a partir da mistura de óxidos ou de seus compostos. Os pigmentos são fabricados por empresas especializadas, inclusive por muitas das que produzem fritas, cuja obtenção envolve a mistura das matérias-primas, calcinação e moagem. Os corantes são adicionados aos esmaltes (vidrados) ou aos corpos cerâmicos para conferir-lhes colorações das mais diversas tonalidades e efeitos especiais.
Abrasivos: Parte da indústria de abrasivos, por utilizarem matérias-primas e processos semelhantes aos da cerâmica, constituem-se num segmento cerâmico. Entre os produtos mais conhecidos podemos citar o óxido de alumínio eletrofundido e o carbeto de silício.
Vidro, Cimento e Cal: São três importantes segmentos cerâmicos e que, por suas particularidades, são muitas vezes considerados à parte da cerâmica.
Cerâmica de Alta Tecnologia/Cerâmica Avançada: O aprofundamento dos conhecimentos da ciência dos materiais proporcionou ao homem o desenvolvimento de novas tecnologias e aprimoramento das existentes nas mais diferentes áreas, como aeroespacial, eletrônica, nuclear e muitas outras e que passaram a exigir materiais com qualidade excepcionalmente elevada. Tais materiais passaram a ser desenvolvidos a partir de matérias-primas sintéticas de altíssima pureza e por meio de processos rigorosamente controlados.
Estes produtos, que podem apresentar os mais diferentes formatos, são fabricados pelo chamado segmento cerâmico de alta tecnologia ou cerâmica avançada. Eles são classificados, de acordo com suas funções, em: eletroeletrônicos, magnéticos, ópticos, químicos, térmicos, mecânicos, biológicos e nucleares. Os produtos deste segmento são de uso intenso e a cada dia tende a se ampliar.
Como alguns exemplos, podemos citar: naves espaciais, satélites, usinas nucleares, materiais para implantes em seres humanos, aparelhos de som e de vídeo, suporte de catalisadores para automóveis, sensores (umidade, gases e outros), ferramentas de corte, brinquedos, acendedor de fogão, etc.
Revestimentos Cerâmicos: As placas cerâmicas são constituídas, em geral, de três camadas: a) o suporte ou biscoito, b) o engobe, que tem função impermeabilizante e garante a aderência da terceira camada, e c) o esmalte, camada vítrea que também impermeabiliza, além de decorar uma das faces da placa.
O corpo cerâmico compõe-se de matérias-primas naturais, argilosas e não argilosas. Os materiais argilosos são formados de uma mistura de diversos tipos e características de argilas para dar a composição desejada e são à base do biscoito. Os materiais não argilosos, quartzo, feldspato e caulim, servem para sustentar o corpo cerâmico ou promover a fusão da massa e os materiais sintéticos são utilizados para a produção de engobes e esmaltes e, servem para fazer a decoração dos revestimentos.
Estes revestimentos são usados na construção civil para revestimento de paredes, pisos, bancadas e piscinas de ambientes internos e externos. Recebem designações tais como: azulejo, pastilha, porcelanato, grês, lajota, piso, etc.
A tecnologia do porcelanato trouxe produtos de qualidade técnica e estética refinada, que em muitos casos se assemelham às pedras naturais.
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O MOMENTO ATUAL DA INDÚSTRIA DE REVESTIMENTOS CERÂMICOS BRASILEIRA
A concentração geográfica de empresas é característica da indústria de cerâmica para revestimento. Dois dos países líderes, Itália e Espanha, têm produção concentrada nas regiões de Sassuollo e Castellón, respectivamente. A estratégia competitiva dessas regiões baseia-se em design, qualidade e marca.
Da mesma forma, no Brasil, a produção é concentrada em algumas regiões. A região de Criciúma, em Santa Catarina, que tem reconhecimento como pólo internacional, concentra as maiores empresas brasileiras. Naquela região as empresas produzem com tecnologia via úmida e competem por design e marca, em faixas de preços mais altas.
Em São Paulo, a produção está distribuída em dois pólos: Mogi Guaçú e Santa Gertrudes. A região metropolitana de São Paulo conta com algumas empresas, mas não se configura um pólo. As empresas da capital e Mogi Guaçú produzem com tecnologia Via Úmida, enquanto em Santa Gertrudes a tecnologia utilizada pela maioria das empresas é Via Seca.
O Nordeste brasileiro pode tornar-se um pólo em futuro próximo, devido às condições favoráveis de existência de matéria-prima, energia viável e um mercado consumidor em desenvolvimento, além de boa localização geográfica para exportação.
O equipamento determinante da escala de produção é o forno de cozimento das peças. Estes fornos podem atingir mais de 150 m de comprimento. Na década de 1990, houve evolução na escala desses equipamentos, tendo sua capacidade ampliada de, aproximadamente, 80 mil m2/mês para 500 mil m2/mês ou mais, o que resultou em grandes aumentos na produtividade e no crescimento observado nesta indústria.
O Brasil é hoje um dos grandes players mundiais do revestimento cerâmico. O país é o segundo maior consumidor mundial de revestimentos cerâmicos e o segundo maior produtor. A cada dia a qualidade e a variedade desse material aumentam. Na mesma medida, cresce a utilização da cerâmica no Brasil para revestir pisos e paredes de todos os espaços internos da casa, assim como espaços externos. Exemplo disso são as fachadas dos edifícios revestidas por cerâmicas de tipos e formatos variados.
Os revestimentos cerâmicos, além das vantagens e da durabilidade provada através dos séculos, possuem as qualidades que uma avançada tecnologia lhes confere. Eles se mostram apropriados para pequenos detalhes, ambientes interiores ou para grandes escalas ao ar livre. São oferecidos de maneira a satisfazer os mais variados gostos, como padronagens e texturas diversas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• Centro Cerâmico do Brasil. Apostila de Cerâmica Artística.
• Centro Cerâmico do Brasil. Apostila de Revestimento Cerâmico.
• Machado, Dra. Solange Aparecida. Dinâmica dos arranjos produtivos locais: um estudo de caso em Santa Gertrudes, a nova capital da cerâmica brasileira.
• Amboni, Nério. O Caso CECRISA S.A.: uma aprendizagem que deu certo.
• Home page: www.abceram.org.br
• Home page: www.eba.com.ufmg.br
• Home page: www.eesc.usp.br
• Home page: www.museutec.org.br
• Home page: www.precisão.eng.br
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