Cores do
francês Henri Matisse
Mostra expõe pinturas, desenhos, gravuras e
esculturas de todas as fases do artista.
Antônio Gonçalves Filho, de O Estado de S. Paulo.
'Odalisca com calça vermelha', de 1924.
O poder transcendental da pintura do francês Henri Matisse (1869-1954), que atravessou o século 20 como principal rival de Picasso, é inquestionável. Tanto que Émilie Ovaere, curadora adjunta do museu que leva seu nome na França, ao organizar a exposição Matisse Hoje na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, que será aberta a partir de 5 de setembro, reuniu, além de 80 obras suas, trabalhos de pintores contemporâneos franceses que ainda fazem uso de suas técnicas e invenções. Como eles, Matisse buscava, acima de tudo, a expressão. Injustamente, diziam dele que tudo o que procurava não ia além de uma satisfação puramente visual. Acusavam-no, enfim, de ser decorativo. Ele, parafraseando Delacroix, respondia que os artistas não são compreendidos, apenas aceitos. E defendia o decorativo como uma qualidade essencial de uma obra de arte. Concordam com ele seus cinco discípulos contemporâneos que dialogam com Matisse na exposição.
Assim, a mostra da Pinacoteca traz pinturas,
esculturas, desenhos, gravuras e papéis recortados "comentados" visualmente
pelos artistas Cécile Bart, Christophe Cuzin, Frédérique Lucien, Pierre Mabille
e Phillipe Richard, cinco representantes da arte contemporânea francesa que não
fazem feio ao lado do dono da cor, um homem que atravessou duas guerras
mundiais sem permitir, como disse o crítico italiano Giulio Carlo Argan
(1909-1992), que a dor do mundo entrasse em sua pintura. A arte, defendia
Argan, "conserva e restitui aos homens a alegria de viver que a tragédia
destrói". Por isso, Matisse é, conforme a visão do crítico, um dos pilares
da ponte artística que uniu a França ao resto do mundo (oriental, inclusive).
A mostra, diz a curadora Emilie, faz um
percurso retrospectivo da pintura "incorruptível" de Matisse - e não
só dela. Ele vem acompanhado de obras contemporâneas que exploram os temas
básicos de sua arte: a cor, a linha, o arabesco e o espaço, que, segundo o
pintor, não tinham autonomia para desprezar asrelações entre esses elementos
constituintes da boa pintura. E há inúmeros exemplos dela na exposição, desde
uma paisagem feita no final do século 19 em Belle-île-en-Mer, uma ilha na costa
atlântica da Bretanha, até os papéis recortados da fase terminal, época em que
Matisse se concentra nos vitrais e ornamentos litúrgicos da Capela de Vence e
sua caligrafia abre falência por conta de um derrame cerebral que o levou à
morte em 1954.
Felizmente, essa "indesejada das
gentes" não marca presença na mostra - alegre, colorida, sensual -, que
tem pinturas icônicas como Torso Grego e Vaso de Flores (1919) e Natureza Morta
com Magnólia (1941), esculturas de bronze (Nu au Canapé), gravuras, livros
ilustrados e as collages com papéis recortados dos anos 1940. Por essa época,
Matisse, submetido a uma colostomia e preso a uma cadeira de rodas, passou a
usar a tesoura no lugar do pincel. Com a ajuda de assistentes, ele criou
collages de grandes dimensões que chamou de ‘gouaches découpés’. Painéis
serigrafados (da série Océanie) e pranchas do livro Jazz, publicado em 1947,
completam a exposição, que traz fotografias do ateliê do artista feitas por
Cartier-Bresson e Man Ray.
Essas imagens registram mais que a figura do
pintor. Documentam seu modo de produção. A curadora Emilie chama a atenção para
a relação afetiva que Matisse mantinha com os objetos, intensa como a de
Morandi com suas garrafas. "Ele gostava de se ver rodeado por flores e
mulheres", observa, lembrando que as fotos de Cartier-Bresson flagram o
pintor integrado à arquitetura do ambiente do ateliê como se fizesse parte da
decoração. E, mesmo idoso, transpira sensualidade, saudoso de suas odaliscas. A
esse respeito, a curadora é tão cautelosa como a biógrafa inglesa do pintor,
Hilary Spurling, que jura ter Matisse feito amor "apenas na tela" com
sua modelo Lydia - ela começou como enfermeira da mulher do pintor e virou sua
assistente. "Os ingleses são um pouco moralistas, não é mesmo?",
observa a curadora francesa, elogiando o primeiro volume da biografia, mas
acirrando a histórica rivalidade com os súditos da rainha. Em tempo: a biógrafa
inglesa esqueceu que madame Matisse exigiu a demissão de Lydia. A razão parece
óbvia.
De qualquer modo, mulheres não faltam na
mostra. A fixação de Matisse pelo corpo feminino, por cores vibrantes, tecidos,
roupas e acessórios - justificada pela biografia do pintor, nascido em um povoado
têxtil (Le Cateau-Cambrésis)- é sintetizada no óleo Odalisque à la Cullote
Rouge (1921). De cores vivas, ele traz uma odalisca em pose sensual e distante
da paleta sombria do começo de carreira, que seguia os mestres do Louvre. É
possível, percorrendo a mostra, organizada de forma cronológica, acompanhar a
evolução dessa pintura, da influência de Cézanne e dos orientais até os
sintéticos papéis recortados, passando pelas obras fauvistas e as de caráter
decorativo, que dão espaço, em 1914, a uma expressão mais sofisticada - e que
será analisada num colóquio (promovido pela Pinacoteca) e num livro (Matisse:
Imaginação, Erotismo, Visão Decorativa) que a editora Cosac Naify lança durante
a mostra (aberta até 1º de Novembro).
Com a leitura deste texto e leitura visual, com auxílio de livros de arte de trabalhos do artista Henry Matisse, iniciamos um trabalho com "tintas puras", onde os alunos pintaram folhas de sulfites com as cores primárias ( azul, vermelho e amarelo) e secundárias ( verde, roxo e laranja) e depois de secas trouxeram para a aula onde fiz a sugestão de que criassem desenhos realistas ou abstratos, à critério do grupo, usando a tesoura no lugar do lápis, recortando os papéis e iniciando o processo de criação. Vejam os resultados. Organizamos exposição dos mesmos no páteo da escola. Maravilhosos!!!!
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